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Desatar para (re)atar LAÇOS AFETIVOS [Hanseníase] NEU*/Reflexões


Lições da vida...
Cruas, nuas, viscerais...
Tatuadas na pele da alma!

Marcas de amor...
Cores vivas e perfumadas...
Impossível de serem ignoradas!

Dos nós desfeitos os laços renascem...

Pegadas luminosas surgem pelo caminho!




 


As lições da vida nos chegam de muitas maneiras...
Sou feliz por receber de presente algumas delas
em forma de letras como essa, que o Prof. Luiz Carlos D. Formiga relata abaixo.

 

LAÇOS AFETIVOS

 

LUIZ CARLOS FORMIGA
 

O professor ainda terá espaço para trabalhar valores. O jovem se tornará mais apto para enfrentar seus desafios. Eu tive bons professores, na casa espírita e na escola. Mas a família estruturada é fundamental.

Fatores biológicos ou psicológicos podem impulsionar os jovens para a beira do precipício, mas esses impulsos são liberados ou bloqueados através da influência social e o que dá legitimidade às interdições sociais são os laços afetivos familiares. O afeto recebido no período infanto‑juvenil é que os torna capazes de tolerar e se submeterem às normas sociais e familiares, controlando seus impulsos ao invés de por eles serem controlados (1).

De bonde ia ao colégio. Acabei memorizando um cartaz.

“Veja ilustre passageiro, que belo tipo, faceiro, que o senhor tem a seu lado. No entanto, acredite, quase morreu de bronquite, salvou-o Rum Creosotado”.

Do Largo do Tanque nos deixava em Cascadura. Chegou repleto. Encontrei lugar. Inusitado, sentei rápido. Poderia ir no estribo, como todo jovem. O belo tipo, faceiro, tinha as mãos em garra. Olhei discretamente e percebi também orelhas alongadas.

Na volta, chegando a casa relatei a sorte de ter encontrado lugar e falei sobre mãos e orelhas. A mãe falou-me sobre uma “colônia de leprosos” e que não me preocupasse. As pessoas podem apresentar sequelas, mas estão curadas. Não contaminam mais ninguém. Eu estava na era dos antibióticos e nem suspeitava que a minha monografia experimental de graduação seria com treze antimicrobianos. Tornei-me professor da faculdade de medicina e através dos laços afetivos visitava pacientes, na antiga colônia, agora Hospital de Dermatologia Sanitária. Lá funciona uma casa espírita.

Antes da faculdade, eu era jovem espírita, pois minha mãe havia me contaminado. O jovem, mesmo o espírita, tem suas depressões. Era tímido e não tinha coragem de abrir o coração.

Minha mãe logo percebia o “momento de tristeza”. Era diferente do efeito colateral do anti-histamínico que usava.

Falou-me: “soube que aqui perto virá um palestrante muito bom. Por que você não dá um pulo lá e fica para o passe?”

Cheguei em cima da hora e fiquei na última fileira. Não conhecia ninguém. O dirigente apresentou o palestrante. Minha mãe não se enganara. Pelo visto era pessoa importante para os espíritas do Rio de Janeiro. Depois da prece lhe foi dada a palavra.

De longe parecia com o homem do bonde. Aquelas orelhas, as pálpebras caídas. Uma muleta apontava a deficiência física, mas quando começou a falar... Era um portador do “bem de Hansen”.

Falou-nos da vida e com poesia lembrou Jesus.

Ele comentou que antes da doença havia pensado em ser político. Chegaria à prefeitura de sua cidade, mas a hanseníase votou nele.

O bonde da vida me levou ao biomédico na Faculdade de Ciências Médicas e depois ao magistério superior. Mesmo depois da aposentadoria ainda trilho a estrada do ensino e da pesquisa. Ainda vivo entre teses de ciências e a fé cotidiana. Na dúvida, produzir resultados experimentais ou privilegiar valores morais, mais difíceis de serem sobrepujados?(2)

O domínio cognitivo é traiçoeiro na terceira idade, mas quando penso naquele dia predomina o afetivo. Ele falou como Joanna: “ante as dificuldades do caminho e as rudes provas da evolução, resguarda-te na prece ungida de confiança em Deus, que te impedirá resvalar no abismo da revolta.”(3)

O paciente diz: “Mas, porque eu?”

O palestrante:“um pouco de silêncio íntimo e de concentração, a alma em atitude de súplica, aberta à inspiração, eis as condições necessárias para que chegue aapaziguadora resposta divina.”

“Cria o clima de prece como hábito, e estarás em perene comunhão com Deus,fortalecido para os desafios da marcha.”

Depois de mais de 50 anos, não me lembro de suas palavras. Ficou a emoção como reforço da vacinação recebida no ambiente sócio familiar.

Aquele homem ensinava e emocionava como Renato Teixeira: “ando devagar porque já tive pressa e levo esse sorriso porque já chorei demais”(4)

Sua voz de Hércules, emoldurava o sorriso franco e largo: “é preciso, conhecer as manhas, o sabor das massas e das maçãs. É preciso amor, pra poder pulsar. É preciso paz pra poder seguir, É preciso chuva para florir.

Como se desejasse diminuir a compaixão de alguém, disse com humildade: “hoje me sinto mais forte. Mais feliz, quem sabe, eu só levo a certeza de que muito pouco sei, ou nada sei.”

Falou-nos de suas crenças e revelou que antes desdenhara a imortalidade da alma: “sinto que seguir a vida seja simplesmente conhecer a marcha e ir tocando em frente. Como um velho boiadeiro, levando a boiada, eu vou tocando os dias pela longa estrada, eu vou. Estrada eu sou.

Nos fez recordar o bem da vida, a Lei de Ação e Reação: “cada um de nós compõe a sua própria história e cada ser em si carrega o dom de ser capaz de ser feliz”.

Acalmou-nos a alma falando do reencontro com nossos amores, aqui e no além.

Eu precisava daquelas palavras. Na infância enfrentei o luto. Minha professorinha, irmã mais velha, desencarnara na juventude. Fiquei “filho único” através da dor. No planeta regenerado cientistas e educadores da infância receberão o reconhecimento social.

Aquele palestrante não usava apenas a cognição. Palavras-luzes eram emitidas pelo coração: “todo mundo ama um dia. Todo mundo chora. Um dia a gente chega e no outro vai embora.”

Retornei renovado. Pedi a Deus que pudesse fazer o mesmo algum dia, como retribuição.

Um dia, em 1988, ele me chamou ao Centro Espírita Filhos de Deus. Teríamos uma reunião com o Coronel Edgard Machado. Dela saí com a tarefa de escrever um texto para publicarmos em “cartas dos leitores”. O Jornal foi além. (5)

Obrigado, Amazonas Hércules. (6)




Fontes.


(1) http://www.espirito.org.br/portal/artigos/neurj/a-influencia-da-midia.html

(2) http://orebate-jorgehessen.blogspot.com.br/2011/11/universidade-e-espiritualidade-entre_11.html

(3) "Vida Feliz", Divaldo P. Franco, pelo espírito Joanna de Ângelis.

(4) Tocando em Frente. Música de Renato Teixeira.

(5) www.iqm.unicamp.br/~formiga/neu/manchaanestesicasocial.pdf

Mancha Anestésica Social. Publicado como Editorial na Revista Brasileira de Patologia Clínica, 24(2):31, 1988; "O Globo" - País/Ciência e Vida, 19 fev. p.11. ; "O Dia" - Domingo, 31 julho, p.14.; Revista Psicologia - Comportamento, 14: 30; Boletim Informativo do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (UFRJ), 7(63): e Citado no Pronunciamento do Deputado Elias Murad - PTB-MG. Assembléia Nacional Constituinte. Câmara dos Deputados (17 de maio).

(6) http://www.cefilhosdedeus.blogspot.com.br/


Outras publicações - Links/Títulos


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LAÇOS AFETIVOS - Jornal O Rebate



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http://cefilhosdedeus.blogspot.com.br/ - CE Filhos de Deus

 

Juli Lima e Luiz Carlos D. Formiga
Enviado por Juli Lima em 02/09/2012
Alterado em 13/02/2023


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